quinta-feira, 3 de julho de 2008

Quase primatas

Antigamente as famílias sentavam em volta da mesa e conversavam, uma prosa tão doce e incansável que ia até o fim do luar, até o momento em que ninguém mais tinha saliva. Então eles apagavam suas velas e encaravam um sono profundo, só acordavam depois do terceiro canto do galo. Ao amanhecer dirigiam-se ao curral com suas canequinhas de plástico e bebiam um leite naturalmente morno, o resto do dia era trabalho, comida e prosa (não entendo como tinham tanto assunto). Mesmo sem ter nada para fazer, eles tinham tudo. Eram felizes. A simplicidade do campo, toda aquela harmonia e humildade bastavam ao homem "tão longe de amarguradas ilusões e de falsas delícias" (Eça de Queirós).
Atualmente, acreditamos que o mundo gira em torno da complexidade, e realmente gira. Pode até ser que ainda há aqueles que reunam a família em volta da mesa, porém todos se mantêm em silêncio ouvindo as notícias do telejornal ou a novela das oito. Ninguém mais apaga as velas para ir dormir, uns dirigem-se ao computador, enquanto outros preferem a televisão ou quem sabe o video game. Os humanos são totalmente dependentes dessas tecnologias: os adolescentes não sabem escrever cartas, as crianças não sabem nem o que significa isto, os adultos trabalham o dia todo na frente de máquinas e chegando em casa vão para onde? Quando o telefone resolve não funcionar é xingamento na certa. E quando toda essa modernidade resolve "pifar", todos deveriam encarar como uma oportunidade para prosiar, só que não é assim não, se surge algum assunto ele é exatamente assim: - Essa internet está uma porcaria. E quantos porcarias eu ouvi hoje, perdi até as contas. O pane no sistema foi assunto de jornal, quase 24 horas sem internet, empresas não funcionaram, jovens entraram em crise... Foi um tremendo caos, confesso que até eu cheguei a pensar: "Como eu sobreviverei sem o meu msn, orkut, blog ..."
Construímos nossa vida em torno de coisas materias; não consigo beber outro leite se não for o de caixinha.
Será que isso vai durar para sempre? Acho que vai chegar uma hora em que as linhas estaram tão congestionadas que não haverá mais lugares livres para passar ondas eletromagnéticas. E então será o fim da nossa ERA COMPUTADORIZADA. Nos rebaixaremos a primatas, teremos que começar tudo do zero... Acho que não vou me adaptar!

3 comentários:

Gabriel Mantelli disse...

Também pensei em falar da 'incrível pane no sistema'. Todo mundo ficou maluco, meus irmãos ficaram nervosos e minha mãe irritada sem seu orkut. Internet é uma droga porque vicia, esse é o dogma que seguimos. Por já, começo aqui minha carreira de comentários no seu blog. Adoro seus textos. Até!

Charlos Pig disse...

Aqui ate a velhinha do metro escuta seu iPod. Nao imagino essa pane aqui. Nao sei como viveria, acho que abriria um bom livro.
Boa carreira de comentarios.

Anônimo disse...

Gostei, condiz com que eu realmente penso.
Parabéns
Amauri